segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sem nome

Como se diz algo que não tem nome? Que nunca foi dito? Que fica nas entrelinhas, se é que as há? Nos silêncios? Naqueles momentos depois das despedidas? Quando se volta costas e não se olha mais para trás? Que se sente aí, porque se está a esconder?

Algo que só existe no presente e desvanece na distância? Fica na memória, a pairar, em indeterminação. Só tem indícios, que são fortes. Fortes como um comprometimento. Uma lealdade. Mas que fica suspensa, sem peso, com um imenso peso que puxa, mas não prende. Livre. Demasiado... Não existe para além do momento em que existe absolutamente.

Sinto a mão no meu braço, que me eleva ligeiramente, deixando-me em desequilíbrio, sobre uma só perna. Tão pequena que eu sou, no cimo do monte. Puxa-me e liberta-me do chão. Sorrio, sem saber o que esperar. Sem saber o que sentir. Uma ligeira vergonha escondida no sorriso. Uma espécie de pudor. Como se a lente espreitasse um segredo dentro de mim que não queria revelar.

Tenho um segredo sem nome. O que sei? É um padecimento que alimento activamente... É do tamanho e da forma dos montes, mas não tem extensão. É feito da satisfação de andar e de ver o mesmo, mesmo quando ando sozinha. Condensa-se numa luta que não dá tréguas com a noite, só com a partida. É violento, feroz, mas também tranquilo como uma conversa sob a luz da lua. Causa dor e prazer. É uma surpresa real e uma impossibilidade. Não tem futuro. Só pode ser presente, de vez em quando. Deixa uma marca que não se vê, mas que não deixa de se fazer sentir.

Tenho um segredo na serra.

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